Quarto 2 - Ocupado por Morgana Hoffmeister Werner por tempo indeterminado

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Eu precisava controlar o meu segundo "eu". A tal "Tulipa Doce", que era um outro lado meu que se desenrolava em palavras frígidas e descabidas de uma solteirona. Era assim que eu assinava meus artigos no jornal da cidade o Profeta Diário. Esperava que me odiassem quando lesse o que lá estaria escrito, todavia odiaram a "pessoa que carregaria meu pseudônimo".

Para não dar tão nas vistas, também falava mal de mim mesma, mas sempre a preservar o sobrenome da família Hoffmeister que era o nome da família da minha mãe.

Durante o dia eu fazia um curso de culinária, e já pela noite escrevia as matérias em alguns pergaminhos e enviava por uma coruja do correio logo nas primeiras horas da manhã.

Aproveitei e trouxe uma fornada de cupcakes de vários sabores para o meu quarto no Caldeirão Furado, ou Caldeira como gosto de chamar. Estava cá porque meu quarto na mansão, closet e casa de banho estava tudo em reforma. E sabe se lá quando isso ia terminar.

Deixei-me estar ouvindo alguma estação bruxa qualquer no rádio. Cá no quarto havia uma poltrona muito confortável por sinal e nela me pus a relaxar.

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Tava a dar alguns boleros na estação de rádio e eu toda relaxada na poltrona quando ouvi as batidas na porta e ouvi uma voz a me chamar. Levantei-se e fui abrir.
-Wally? Entra cara...
Abri espaço para que entrasse e após sua entrada fechei a porta com chave. Ele parecia com uma expressão estranha.
-Que houve? Não estás com boa cara... Aceita um chá de folhas de laranjeira?

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Sirvo uma xícara generosa de chá pra ele.

-Aqui está...

Sento-me numa ponta da cama deixando a poltrona pra ele. Parecia-me preocupado, ainda mais com o borburrinhos das ruas sobre os tempos sombrios que estavam por vir. Mas eu era teimosa, detalhista e tinha outros defeitos que nem valiam relembrar agora.

Eu tentava me esforçar pra manter tudo limpo e organizado do meu jeito, mas não pude deixar de notar que os olhos dele percorriam todo o lugar a procura dos defeitos e tal.

– Por que continua a ‘morar’ aqui? -disse ele dando ênfase de aspas com as mãos.

Não crescemos juntos a vida inteira de fato. Eu sempre fui a prima mais afastada da família, e quando fiz 15 anos fui morar em Massachusetts, mas especificamente em Springfield, a terra dos The Simpsons, uma uma comedy-cartoon norte americana para muggles, depois me formei em Lisboa, Portugal. Quando voltei já tinha um primo super gato, mas eu continuava a mesma menininha sem graça.

-Se esqueceu que meu quarto foi colocado em reforma, meu closet e minha casa de banho?

A verdade é que desde que voltei para a mansão é que invetei de fazer esta tal reforma pra não ficar perto da "tentação chamada primo Wallace". Passei só uns dois dias na mansão vim para a caldeira, que é como costumo chamar o Caldeirão Furado. Olhei a expressão dele...

-E nem me venha com: "mas a mansão tem outros quartos Morgana!", porquê eu sei que estás a pensar nisto neste momento.

Falei com um sorriso doce e vitorioso. O conhecia bem o suficiente pra saber o que se passava naquela cabecinha preocupada.

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Eu até já tinha me esquecido que estava a usar um robe de seda por cima da minha camisola e uma pantufas que eu diria até infantis demais. Meus cabelos só não estavam bagunçados porque nesse lugar não ventava. Por sorte tinha um sistema de refrigeração que mantinha o ar um pouco mais frio. Antes frio do que calor.

As nuvens iam se dissipando e abrindo espaço para algumas estrelas brilharem opacas no céu. A conversa ia fluindo... Na verdade, ele ia fluindo a falar. Estava mesmo preocupado, e eu não sabia bem que se passava na região, tinha apenas chegado há poucos dias e inventei a tal reforma por vários motivos que nem vem bem citar agora.

-E nem me venha com: "mas a mansão tem outros quartos Morgana!", porquê eu sei que estás a pensar nisto neste momento.

– Essa mania boba de querer o mesmo quarto, eu troco com você... Você fica no meu quarto da mansão e eu venho para cá.

Fiz meia cara de indignada a olhar aquele sorriso dele. Tipo macho alpha a querer mostrar poder e proteção. Tinha um sorriso lindo o desgraçado! Abriu a janela, mas praticamente não havia sequer uma corrente de ar. Parecia que estava tudo parado, perdido no tempo.  

– Esse local não é muito seguro, você sabe que estamos em tempos ruins, bem ruins na verdade.

- Eu sei disso Wally, mas também tens de te lembrar que não sou criança e sei me cuidar bem.

Confesso que achei meio estranho ele a contemplar o céu por tanto tempo. Parecia que naqueles olhos haviam uma preocupação a mais. Algo enigmático que sequer sei bem como explicar.

– Espero que esteja bem e que fique bem durante esse tempo vivendo aqui. *disse ele que supriu a voz por um tempo. Havia mesmo algo errado, algo que ele não queria me contar por algum motivo, em seguida virou-se pra mim, andou uns dois passos e me abraçou. Tive medo que ele estivesse indo para algum lugar perigoso depois de sair do meu quarto, que aquilo fosse uma despedida ou sei lá.*   – Eu sei que não sou um primo tão bom, só sei reclamar, mas eu gosto de você.

Senti ele a mexer em meus cabelos dando um leve beijo em meu pescoço. Sinto que agi meu por instinto, por um medo do qual eu não sabia a fonte, pelo desejo talvez ou simplesmente o medo de o perder. Rocei minha face pela barba curta e roçante dele. Apenas aproveitei o momento e o beijei com medo de que jamais eu tivesse uma oportunidade como esta.

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Que estava eu pensando? Talvez tivesse ido longe demais. Mas o beijo dele não me saía dos lábios e ele também não me saía da cabeça. Ele se afastou... Negou a mim. Senti-me uma miúda a ter um amor não correspondido. Tornei a sentar-me na cama já cabisbaixa.

- Desculpe... Não é que esteja a te esconder algo... É que...

As vezes penso que nem eu sei o que quero. É como se eu ainda fosse meio que uma adolescente perdida no seu primeiro amor.

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– Olha... Não me peça desculpas por algo assim, eu diria que todos nós temos segredos, mas é insano fazer algo assim com você. *disse ele*

Senti o doce som de sua voz e sua mão a tocar a minha. Não ousei olhá-lo, mas palavras saíam de minha boca mesmo contra minha vontade.

- Insano? Insano sentir coisas que não quero e...

Já nem sabia direito que dizer. Estava mesmo perdida em mim mesma e nos meus sentimentos. Queria ser um avestruz pra enterrar minha cabeça em algum buraco agora. Sequer o olhei por um momento e falava o tento todo de cabeça baixa.

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-Então não posso ter esperanças?

Sonhos senho destruídos em 4, 3, 2... Aquilo estava a ser demais pra mim, mas o pior é que ele tinha razão além do fato de eu estar a fazer papel de estúpida.

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Foi estranho, mas senti como se tudo pra ele pudesse ser visto de um ponto de vista prático. Do tipo: "Não podes e pronto". Ele ao menos tentou, só pensou um pouco e disse-me que não poderia ser.


Deu-me vontade de ficar só. De chorar por horas, mas senti que tinha de me conter por enquanto ele estava ali em minha frente.

-Ok.

Poderia parecer um simples "ok", mas não era. Aquele era muito mais que um simples "ok". Olhei a janela ainda sentada na cama. Não o queria olhar nos olhos.

-É melhor ires... Já anda a ficar tarde da noite.

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